Crítica | Zombi Child traz de volta o antigo zumbi para as telas

Após a renovação do gênero de zumbis pelo mestre do gênero, George Romero com sua brilhante “Trilogia dos Mortos”, os zumbis se tornaram sinônimos de criaturas grotescas, decompostas, sedentas por cérebro humano, se distanciando da origem do gênero, já que os primeiros filmes sobre zumbis não contavam origens com alguma epidemia viral que se espalhava rapidamente pelo mundo, mas sim da cultura vodu, como é visto no que é considerado o primeiro filme de zumbis do cinema, “Zumbi Branco”, lançado em 1932 protagonizado por Béla Lugosi, e Zombi Child segue na mesma linha do zumbi original que veio do vodu.

Zombi Child : Foto Louise Labeque, Wislanda Louimat

O diretor Bertrand Bonello usufrui bastante desses filmes antigos como base de referências para contar um pouco da cultura vodu do Haiti, e também para o visual dos próprios zumbis, que diferente dos zumbis de hoje em dia, o diretor opta em não utilizar uma aparência grotesca e podre, em vez disso ele mantem a aparência deles de quando eram vivos, trabalhando mais na personalidade deles que também é bem distintas do que estamos acostumados a ver, transformando eles em criaturas mais calmas e desorientadas, que podem ser facilmente manipuladas a ponto de se tornarem escravos em trabalhos manuais.

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Depois de apresentar o arco envolvendo a história do zumbi haitiano Clairvius Narcisse (Mackenson Bijou) na década de 60, o roteiro acrescenta outro arco envolvendo um grupo de amigas de um colégio interno em Paris nos dias atuais, que a inicio não tem nenhuma conexão com a primeira história contada, até que é apresentada Mélissa (Wislanda Louimat), uma garota haitiana que tem conhecimentos sobre o vodu através de sua tia, mas mesmo ela sabendo das histórias e da arte vodu, sua personagem serve mais como um gancho para a personagem Fanny (Louise Labeque) que se mostra ser a verdadeira protagonista do filme, já que o diretor mostra bastante sobre o romance que a personagem vive, de forma verbal através de narração off contada pela própria personagem, abordando apenas a sua visão desse relacionamento.

Tem também o modo como a direção usa a Mélissa para construir o caminho que levará Fanny a interessar pelo vodu por questões pessoais, tem seu destino bem desenvolvido, o problema é o percurso que tem algumas falhas, já que o diretor embora sabe dividir o tempo das personagens e de todos os arcos envolvidos em tela, ele tem dificuldade de dividir o protagonismo das duas personagens, em vez de colocar uma delas como uma coadjuvante, sendo que uma tem mais destaque que a outra.

Zombi Child : Foto Louise Labeque

Quando finalmente o roteiro faz a conexão entre os arcos, além de revelar qual é a relação entre Mélissa e Clairvius, a montagem mostra diversos rituais vodus, dos mais simples e leves até os mais perigosos e assustadores, além de contar em mais detalhes sobre o processo de zumbificação que é um assunto interessante de se ouvir, já que muitos espectadores podem estar enjoados da origem viral dessas criaturas, e a direção consegue mostrar tudo de modo coerente, sem perder o contexto da história ou deixar o público confuso com tantas informações.

Zombi Child traz de volta o zumbi original, sem muitos exageros ou absurdos do gênero, construindo os acontecimentos do filme muito dentro da nossa realidade.

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