Crítica | Três Verões tem uma história simples, mas comovente

Ultimamente o cinema nacional tem retratado bastante história relacionadas a vida de empregadas domesticas, mostrando que a vida simples e trabalhadora dessas mulheres que passam a vida servindo pessoas de classes sociais mais sucedidas podem ser bem mais interessantes do que aparentam ser, já que muitas vezes existe uma história comovente atrás de todo o esforço físico do trabalho delas, e em Três Verões acompanhamos Madalena (Regina Casé), uma empregada de uma família rica que dentro de seu cargo também atua no papel de patroa dos outros funcionários da casa onde ela trabalha, agindo com autoridade mas bem diferente de sua patroa vivida por Gisele Fróes.

Três Verões : Foto Regina Casé

Embora o primeiro ato tem como objetivo de apresentar os personagens e o início do rumo que a trama irá tomar, o arco envolvendo o casal donos da casa que Madalena trabalha tem relevância para a história dela e dos outros funcionários, mas a presença deles não faz muita diferença para a trama, já que no segundo ato repete as mesmas situações com um desfecho bem diferente, mostrando a rotina de todos na casa em época de fim de ano, e que tudo seria diferente depois de algo acontecer com o dono da casa Edgar (Otávio Müller), que afeta a vida de todos na casa, principalmente de Madalena, e o filme poderia muito bem começar desse ponto, já que tirando o arco de Madalena, pouco a diretora Sandra Kogut revela sobre a vida de Edgar e sua esposa, deixando tudo isso muito vago, e esses personagens são pouco lembrados ao decorrer do filme.

Após o ocorrido que prejudica Edgar, que por consequência prejudica também seus funcionários, o roteiro mostra bem os dois lados da situação, enquanto eles são vistos desfrutando da vida de luxo e fartura dos recursos que seus patrões abandonaram junto com eles, também vemos o lado triste dessa história através do pai de Edgar seu Lira (Rogério Fróes) que sofre com a situação do filho e se lamenta pelas escolhas que ele fez que prejudicou toda a família, mas mesmo sofrendo pelo filho, ele ainda dá iniciativa junto com Madalena para criar um negócio para ter uma renda e pagar os outros funcionários que foram abandonados com os salários atrasados, e essa relação entre Lira e Madalena é tratada com uma certa intimidade como de dois amigos queridos, mostrando que um se preocupa com o outro, mesmo eles tendo origens diferentes e fazendo parte de duas classes bem distintas, isso nunca interfere no modo como um trata o outro, mesmo Madalena estabelecendo um pequeno limite nessa relação amigável.

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Ao contar os acontecimentos dos três verões que se passa a história, o roteiro acaba criando um ritmo repetitivo que muitas vezes não leva a lugar nenhum, mudando alguns elementos e destinos para dar continuidade a história, que faz com que esse ritmo fique pelo menos tolerável para que o público não perca totalmente o interesse na trama, mesmo sabendo onde algumas situações vai levar o filme. O roteiro e a direção focam bem no desenvolvimento dos personagens, principalmente em Madalena, que mesmo ela ter se tornado a patroa do lugar, administrando um negócio com ajuda de seus colegas, ela ainda é tratada como sendo uma mulher de classe social baixa por pessoas que contratam os seus serviços, mostrando que mesmo ela sendo sua própria chefe, ela ainda tem que aguentar essa desigualdade social de pessoas que se acham superior só por ter mais formação ou por ser mais beneficiado, e mesmo assim Madalena não leva desaforo, sempre impondo seu orgulho e honestidade.

Três Verões : Foto

Uma das coisas que sustentam o filme é a excelente atuação de Regina Casé, que mesmo estando dentro de sua zona de conforto interpretando mais uma empregada doméstica, o que ela faz aqui pode até ter uma certa semelhança com o que ela faz em “Que Horas Ela Volta?”, mas ela cria uma nova identidade para Madalena, que como empregada e patroa, ela tem mais audácia e desejos próprios de sair dessa vida e ter seu próprio negócio, e mesmo com esse contratempo que interfere em seus planos, ela consegue dar a volta por cima, mostrando também outras camadas que sua personagem aos poucos vai se revelando, como seu passado que é contado na cena mais comovente do filme, e isso só é possível pela dedicação e crença de Regina em sua personagem, como se a vida contada fosse dela mesma.

Três Verões não chega a ser um filme marcante, mas é dedicado pela direção e principalmente pelos atores, entregando uma história simples, mas comovente.

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