Crítica | Subiu as escadarias Arthur Fleck, mas desceu Coringa

Reverenciado em festivais de cinema ao redor do mundo, Coringa vem sendo o foco de todos os holofotes da mídia especializada desde seu anúncio. Tendo falhado em sua tentativa de criar um universo compartilhado como da Marvel/Disney, a Warner arregaçou as mangas e decidiu que a solução seria pegar o maior vilão do Batman e lhe dedicar um filme solo e totalmente desligado de amarras cronológicas do natimorto universo expandido cinematográfico da DC. Violento e perturbador o filme de Todd Philips deixará sua marca, seja pelo lado bom ou pelo lado ruim. 

Ambientado em uma Gotham do início dos anos 80, coringa nos faz acompanhar a trama de Arthur Fleck, um homem com problemas psicológicos que cuida da mãe idosa enquanto trabalha de palhaço para sustentar a casa. Nesse meio tempo o protagonista ainda sonha em ser um comediante de stand up, mas a falta de tato social torna essa tarefa extremamente complicada. 

Como a todo momento o filme se vendia como algo a parte dos quadrinhos e filmes de super-herói, não é de se surpreender quando os elementos dos gibis se tornam algo alienígena na trama. A impressão que se dá é que o roteiro estava engavetado a tempos na Warner e o selo coringa uniu o útil ao agradável por atrair o imenso público das atuais bilheterias nerds e também as pessoas que torcem o nariz para o gênero por ser pipoca demais. 

poster joker

Mas é justamente esse casamento que deixa o filme por muitas vezes sem um andamento ou até mesmo uma identidade própria. Ao não se decidir o que quer ser Coringa flutua de ritmo muitas vezes, deixando uma sensação confusa a quem assiste.  

O trunfo que consegue sustentar esse ritmo inconstante reside nas mãos de Joaquin Phoenix, que não só ajuda o espectador a acompanhar a trama do perturbado Arthur Fleck, como mostra toda sua versatilidade, flutuando entre todas as nuances de loucura que o protagonista pede. 

O cuidado com a estética do filme também é um ponto a ser reconhecido. Embora a necessidade de parecer algo de Martin  Scorsese soe forçada em alguns momentos, o filme abraça muito bem essa homenagem. Afinal, tem até mesmo o Robert De Niro no longa. 

Não sei se a discussão sobre a mensagem que o filme passe chegue a afetar a qualidade da obra em si, mas nos tempos que vivemos é meio assustador ver um personagem desses ser tomado como herói dentro da trama e alguém identificável fora delas. 

Coringa não estabelece um novo patamar para os filmes de quadrinhos porque toda sua identidade é justamente renegando o fato de ser baseado na nona arte, o que acaba deixando todas as citações ao universo de Batman como algo bobo. Mesmo assim, vale ir pelo cuidado que ele teve para ser algo mais fora do eixo de blockbuster, mesmo não tendo conseguido atingir essa marca, ainda é um bom filme. 

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