Crítica | Black Mirror: Bandersnatch – Prepare-se para dar um nó em sua mente!

Quando você pensa que já viu de tudo no quesito inovação, a Netflix surge com um filme interativo, que se passa dentro do universo de uma de suas séries mais populares, em que cada decisão tomada afeta não só o futuro da trama, como também a personalidade e o tom da história. É assim que ‘Black Mirror: Bandersnatch’ se desenvolve, semelhante a um jogo de videogame no estilo ‘Heavy Rain’, o longa metragem possui mais de 5 horas (contabilizando todas as decisões que podem ser tomadas pelo espectador), com 5 finais diferentes de acordo com cada pequena escolha. Definitivamente, é um filme-evento que precisa ser analisado.

A trama elaborada se passa em 1984, quando o jovem programador Stefan (Fionn Whitehead) está desenvolvendo um ousado projeto de videogame baseado em um livro de fantasia chamado ‘Bandersnatch’, em que o leitor precisa tomar algumas decisões que mudarão completamente o desfecho da trama. Ao levar suas ideias para a empresa Tuckersoft, que é gerenciada por Mohan Thakur (Asim Chaudhry), e que emprega o famoso desenvolvedor de jogos Colin Ritman (Will Poulter), seu projeto é aceito e ele precisa trabalhar duro na criação das múltiplas narrativas, dai por diante, somos nós que decidimos o rumo das coisas, levando a história para um lado sombrio e complexo ou guiando-a para um viés mais emocional e familiar.

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A direção de David Slade (A Saga Crepúsculo: Eclipse) é bem desenvolvida e tem plena coerência com as escolhas que fazemos, assumindo planos mais elaborados, quando a trama dá um nó dramático, e enquadramentos mais convencionais, quando o jovem está em sua zona de conforto. Aliás, a proposta do filme é exatamente nos tirar da nossa zona de conforto e nos inserir dentro da narrativa, como uma espécie de Deus, ao controlarmos até mesmo as pequenas decisões tomadas pelo protagonista, como escolher uma música ou o que vai comer no café da manhã, por exemplo. E o mais surpreendente (e assustador!) é que o personagem começa a perceber nossa existência após alguns minutos de filme, um diferencial interessante, até mesmo para esse tipo de produto. Nós deixamos de ser passivos e começamos a controlar alguém que sabe da nossa presença naquele espaço.

O roteiro não-linear desenvolve um vai e vem de ações que, mesmo que nossas escolhas sejam “erradas”, a trama retorna para determinados pontos para nos fazer escolher novamente nossos caminhos, sendo assim, como o protagonista, nós também vivenciamos um falso livre-arbítrio, fator que nos faz refletir sobre nossas ações também serem frutos da manipulação imposta por um roteiro perspicaz e plenamente cociente de suas vertentes. Fora o conveniente debate sobre a manipulação das massas através da TV e o futuro do cinema com as novas tecnologias, como a interatividade, por exemplo, assuntos pertinentes para qualquer episódio de ‘Black Mirror’.

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A vibe oitentista, com os cenários e figurinos coloridos, lembram a Era do Vídeo e o começo da MTV, algo que também se estabelece no estilo de lente utilizada pelo diretor e na fotografia, que mais parece retirada de antigos jogos de videogame, ao mesmo tempo, os tons frios e cinzas clássicos dos episódios da série também marcam presença. Destaque positivo para a trilha sonora darkwave, que construí o clima de suspense e contribui para a atmosfera old school da trama.

A metalinguagem é a base da narrativa que faz ‘Black Mirror: Bandersnatch’ ser uma obra tão conceitual e à frente de seu tempo, já que poucos filmes se arriscam na interatividade, elemento muito mais presente no YouTube do que no streaming. Uma surpresa divertida e bem elaborada, vinda da gigante Netflix, que não tem medo em inovar e que funciona tanto para o universo distorcido de ‘Black Mirror’, quanto como um pontapé inicial para que haja mais filmes interativos tão inspirados como esse.

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Carioca, formando em Cinema, com especialidade em Crítica Cinematográfica. Criador de conteúdo digital no Instagram @othiagomuniz e cinéfilo de carteirinha. Tenho passagem por sites como PipocasClub, CinePOP e Papo de Cinema.
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